terça-feira, 3 de maio de 2011

Uma trégua na guerra dos sexos nas finanças

  Aos 36 anos, a administradora fiscal Cátia Barreto de Abreu não pensa em investir na bolsa de valores. Ela divide todos os seus investimentos entre cadernetas de poupança e fundos DI. Mãe de Felipe, 9 meses, ela se preocupa com o futuro e quer que seu dinheiro fique em aplicações seguras.

"Procuro segurança para o meu dinheiro no longo prazo"
Cátia Barreto de Abreu - administradora fiscal

  O palestrante carioca David Portes, 52 anos, é um investidor com perfil diametralmente oposto ao de Cátia. Por ter apetite ao risco, ele investiu muito na bolsa e perdeu R$ 200 mil na crise de 2008. “Corri para o DI”, diz ele. Bolsa nunca mais? Nada disso, ele jura já ter recuperado as perdas, não abandonou a renda variável.

  Qual dos dois tem a melhor estratégia? Cátia, que ganha menos de 1% ao mês, mas não sofre com a volatilidade, ou David Portes, que lida com as oscilações do mercado, mas tem a oportunidade de ganhar bem mais do que na renda fixa? Nenhum dos dois pode ser considerado desinformado. Ambos contam com orientação de especialistas no assunto, estão seguros de suas decisões e cientes das consequências.


  Os exemplos comprovam uma dicotomia que vem desde o tempo em que vivíamos em cavernas: as diferenças de comportamento econômico entre homens e mulheres. Eles eram criados para ir à caça, privilegiando a agressividade e o oportunismo. Elas ficavam encarregadas de cuidar das crias, com ênfase na proteção. Isso se reflete hoje nas decisões de investimentos.

  “Procuro segurança para o meu dinheiro e para o futuro”, diz Cátia. “Errei, mas não posso ficar com medo”, afirma Portes. Essa diferença de abordagem se reflete na BM&FBovespa. Os homens representam três de cada quatro investidores, ao passo que as mulheses são apenas 25% dos 566 mil CPFs cadastrados.

  Lentamente, porém, as fronteiras dos comportamentos masculino e feminino começam a  diluir. A psicóloga Vera Rita Ferreira, especialista em comportamento dos investidores, diz que a informação tornou as investidoras um pouco mais masculinas.

  “As mulheres mais jovens começam a tomar as decisões mais naturalmente”, afirma. É o caso da administradora de empresas Fernanda Haidar, 23 anos. Seguindo o exemplo do pai, ela começou a investir em ações de primeira linha aos 15 anos.
Portes perdeu R$ 200 mil na bolsa com a crise de 2008, mas não deixou de investir em ações

  Mais tarde, com o retorno que obteve de uma aplicação em um fundo de ações de empresas de pequeno porte, conhecidas como small caps, Fernanda começou a comprar e vender, pela internet, ações como MPX, Brasil Ecodiesel e Telemar Participações. “Não tenho medo de correr riscos, se não for um dinheiro que eu precise muito”, diz ela.

  O fato de pensarem mais no longo prazo também aumenta a aversão ao risco. No longo prazo, essa abordagem cautelosa permite que elas ganhem mais dinheiro. No entanto, o mercado financeiro é, cada vez mais, um ambiente para quem pensa e age com rapidez, sem demorar muito na análise de cada decisão.

  Nessa autêntica guerra dos sexos, elas podem aprender com eles e vice-versa. O homem pode aprender a ser mais prudente e a mulher a conhecer mais opções de investimentos. O ideal é unir a agressividade deles com a cautela delas.

  A junção do impulso masculino e da necessidade de segurança feminina pode resultar em uma carteira interessante para o casal. Mais de um pesquisador levou para casa um Prêmio Nobel de economia ao comprovar que os melhores resultados provêm das carteiras que mesclam um pouco de risco à renda fixa. Devemos procurar contrabalançar tudo na vida!

Por Juliana Schincariol
Fonte: Época (publicado em julho de 2010)


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